
O Cromeleque de Almendres foi de novo vandalizado. seria bom que as autoridades (locais, regionais ou nacionais) deste país pudessem dar mais uma atenção ao nosso já depauperado património pré-histórico. Aqui vai a notícia do JN de hoje (6 de Junho de 2005) que vale a pena ler na íntegra:
«Domingo de manhã. Um grupo de mais de vinte pessoas divide-se pelos menires do Cromeleque dos Almendres, a poucos quilómetros de Évora, com pêndulos e varetas de prospecção. Várias fazem medições, trocam comentários murmurados, recusam com um vigoroso aceno de cabeça explicações sobre o que os move em torno do monumento megalítico, descoberto em 1966.
Visões como esta são banais para Panayiotis Sarantopoulos, arqueólogo dos quadros da Câmara de Évora e professor da Universidade local, um grego radicado há duas décadas em Portugal e apaixonado pelo património megalítico, particularmente rico no eixo Évora/Elvas. "Cada vez que venho ao cromeleque encontro os mais diversos grupos, desde druidas, de magia negra ou com os mais diversos ritos de ocultismo", conta.
Numa das alas do cromeleque, vêem-se vestígios de uma fogueira. Sinais que se repetem a poucos quilómetros, na Anta do Zambujeiro, onde foram também feitas inscrições numa das gigantescas pedras laterais de granito. A dureza da pedra é uma das raras protecções contra o vandalismo. Porque de resto, alerta Sarantopoulos, não existe qualquer tipo de vigilância ou protecção.
Tanto o cromeleque como a Anta do Zambujeiro são classificados pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR). A Direcção Regional de Évora confirma ter conhecimento de "práticas menos correctas e potencialmente prejudiciais para a conservação daqueles monumentos" e relaciona-as com a facilidade dos acessos. "A actual situação é tão mais complexa quanto aqueles monumentos são dos mais visitados em toda a região", acrescenta.
Numa resposta escrita às questões levantadas, o IPPAR salienta, contudo, ter algumas dificuldades de intervenção decorrentes do facto de os monumentos se encontrarem em propriedades privadas.
Disciplinar acessos
O arqueólogo Sarantopoulos confirma o conflito inevitável entre a manutenção do património e os interesses dos proprietários dos espaços agrícolas em que se insere. No caso do menir dos Almendres, situado sensivelmente a um quilómetro do cromeleque, foi recentemente criado um canal de algumas centenas de metros, com redes impeditivas de circular pela herdade, que disciplinou o acesso. "Antes disso, o proprietário queixava-se de estar a tomar o pequeno-almoço e os visitantes lhe passarem à porta, em direcção ao menir", explica.
Razões que não explicam outros problemas, como a ausência de placas interpretativas, que o IPPAR diz estar em vias de resolução. No âmbito de um projecto de sinalização turística da Região de Turismo de Évora, está prevista a colocação de placas, "segundo modelo já aprovado pelo IPPAR".
E como as "práticas menos correctas" detectadas nos monumentos não são os únicos problemas, o IPPAR afirma estar previsto "um diagnóstico técnico envolvendo, em particular, as causas e efeitos da intensa erosão no caso dos Almendres ou da estabilidade do conjunto da mamoa e Anta Grande do Zambujeiro, tendo já sido solicitada ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil uma proposta concreta para aquele efeito".
Menir dos Almendres
É um monumento megalítico, do quinto ou quarto milénio A. C. Termo bretão, menir significa pedra erguida. Pela forma fálica, há quem os interprete como símbolos de fertilidade, mas a leitura não é consensual.
Cromeleque Conjunto de menires. O dos Almendres é o maior estruturado da Península Ibérica. Pensa-se que poderá ser um observatório astronómico primitivo. No solestício, o nascer do sol coincide com algumas das pedras. Anta do Zambujeiro Túmulo e monumento à morte. É uma das maiores da Europa estava coberta por uma colina artificial com 50 metros de diâmetro. Com a câmara de acesso, tem a forma do útero feminino. Os mortos eram enterrados na posição fetal.»